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segunda-feira, 14 de junho de 2010

A oratória que eu não li...

Bom, peço desculpas por não postar um poema hoje como de costume, mas a um tempo atrás Janaildes lá do senai me pediu que escrevesse um texto para a oratória da formatura, como nao pude ir ao ensaio geral não pude ler no dia da formatura. é uma pena pois mesmo quando eu leio me emociono... (eu me acho!) bom, é comprido mas é gostoso (silvio nao estou falando de vc! heheheheh). boa leitura! e por Deus!!! COMENTEM!


No ano de 2003 ingressamos no SESI, muitos de nós não sabíamos nem mesmo o que estávamos fazendo ali, e se não fosse a sensibilidade das nossas guerreiras mães provavelmente nem mesmo teríamos feito a prova. A primeira etapa de uma historia de vitórias havia sido ultrapassada, e não há como dizer que foi uma prova fácil, o que já nos tornou de fato vencedores. A partir daí foram dois anos e meio aprendendo um monte de coisas que não tínhamos a menor idéia de onde iríamos usar, por vezes fazendo pouco caso do conhecimento que nos estavam sendo fornecido, e às vezes conhecendo o fantástico efeito da recuperação.
Basicamente, a nossa historia no SESI pode ser resumida da seguinte forma (para alguns), 1º ano estávamos com todo gás, estudando com vontade! No 2º ano passamos a direcionar o nosso potencial para o curso de Cabeamento estruturado/ Redes ou Manutenção em Microcomputadores, Já no 3º ano... Já não agüentávamos mais a sala de aula (com o famoso CHA, que passa longe de ser a competência, habilidade e atitude, mas sim o velho chá de cadeira) e queríamos mesmo era chegar o dia da escolha do curso e inicio das aulas no SENAI, ou seja, 100% de atenção a qualquer coisa, menos ao SESI. A final estávamos a um passo da sonhada transcendência! (lembra daquela historia da recuperação?).
Após a escolha do curso pudemos ver que nem tudo é como a gente quer, mas que às vezes nós nem mesmo sabemos o que queremos e certas decepções acabam por ser providenciais em nossas vidas. A escolha do curso marcava a passagem para uma nova fase das nossas vidas, a partir desse momento passaríamos cerca de dois anos sentindo falta do que deixamos de aprender no SESI (lembra do que eu falei sobre recuperação?) e entendendo que o conhecimento fornecido realmente tinha uma aplicação. Nem todos fizeram o curso que escolheram, e dentre esses nem todos gostaram do curso que fizeram, mas também tiveram aqueles que souberam aproveitar o que tinham nas mãos e fizeram o seu melhor.
Há pouco mais de dois anos estávamos entrando em um mundo de coisas muito diferentes, em um mundo onde positivamente nós perdemos a nossa identidade, a final quem de nós não foi apresentado pelos pais como sendo “o meu filho do SENAI” e se sentiu extremamente orgulhoso pelo comentário? Como podíamos imaginar que entrar em um mundo tão diferente poderia fazer de nós pessoas adultas com um entendimento de universo muito maior do que quando entramos. Em nossa trajetória não aprendemos apenas os aspectos técnicos, mas também os valores morais que carregaremos por toda a nossa vida, o senso de união que foi tão importante para atingirmos a nossa vitória e principalmente a trabalhar a nossa força de vontade.
Mas nem tudo nesse lindo mundo foram flores. Quantos de nós tivemos que escolher entre comer e ir ao curso, quantos de nós saímos de casa apenas com o dinheiro de transporte de ida e as voltas deixávamos nas mãos de Deus. Quantos de nós ouvimos coisas como: “esse curso não vai lhe dar dinheiro” “você só me dá despesas” “ melhor que vá arrumar um emprego” e a pior de todas coisas “você não vai conseguir” “você não é capaz”. O que as pessoas não contavam era que estavam falando com jovens que não vieram ao mundo a passeio, mas que estão aqui para lutar pelo seu lugar, que realmente entendia o valor do que lhe estava sendo oferecido e sabiam que provavelmente era a sua única chance de conseguir uma colocação no mercado e poder melhorar a sua condição de vida, a vida de suas famílias. E hoje nós podemos gritar em bom tom para essas pessoas que nos desacreditaram NÓS AINDA ESTAMOS AQUI.
Alguns de nós quando entrou no SENAI encontrava-se em situação de risco social e hoje já estão em processo de ascensão social, e que mesmo ainda fazendo estágio já possui a maior renda de sua casa. O que teria sido de nós se não estivéssemos aqui? E o que aconteceria se tivéssemos ouvido aqueles que nos colocaram pra baixo, que nos desestimularam?
Nós nos dispusemos a todo tipo de prova que cruzou nossos caminhos, enfrentamos aluas em dois turnos e ainda conseguíamos tempo para estudar a noite, noite que por sinal para alguns só começava às 20h, pois o tempo gasto em transporte do SENAI até chegar a casa podia oscilar bastante (que a paralela engarrafada não se ofenda). Dormir às 2h e acordar às 5h, mas não se assustem sabíamos compensar muito bem as horas não dormidas, a final quase três horas dentro de um ônibus dá até para sonhar (nos meus, Bernoulli esteve muito presente).
Festas? Sim fui a todas, desde que o tema fosse processos industriais, instrumentação, tratamento de água e efluentes, destilação...
Sim companheiros, nós nos privamos por vezes ate mesmo da nossa vida social, e isso acontecia com tanta freqüência que em algum momento chegamos a sentir saudade de nossos pais mesmo morando na mesma casa, há vizinhos que pensaram que eu tinha viajado e outros pensaram que eu estava preso. Isso é sacrifício (do latim 'sacrificium: sacer = sagrado + facere = fazer') por isso esse momento é tão importante, porque o nosso sacrifício tornou essa jornada sagrada em nossas vidas.
Se hoje nos perguntarem: o que você irá contar para os seus netos? Será que teríamos o que dizer? Será que hoje já possuímos uma historia de vida? Será que valeu a pena? E o que será que virá...?
No decorrer do curso descobrimos mais uma coisa fundamental para um bom viver, a auto-afirmação. E ao concluir o curso percebemos que temos uma profissão e que o já batido “serviços gerais” não constará em nossos currículos, pois hoje somos Técnicos em nossas áreas de atuação, possuímos um diploma! E não pensemos que por isso ganhamos nossa identidade novamente, pois hoje eu sou apresentado por meus pais como: “esse é meu filho da Petrobrás” (ao menos houve uma evolução).
O destino pode ser algum lugar muito mais próximo do que esperamos por isso, meus amigos, não vamos esperar as voltas do mundo para descobrir que o tempo passou e nós já estamos velhos de espírito, não vamos deixar nossa identidade congelada em “esse é meu filho técnico em...”. Vamos transcender para uma nova identidade, tendo sempre em mente que o ser humano é o limite das suas possibilidades, ou seja, somos nós o maior limite que temos que ultrapassar. O que desejo hoje a todos é que conservem o espírito jovem que usaram para chegar até aqui e o utilizem para atingir suas novas possibilidades e vitórias cada vez maiores.
Dou então meus parabéns a esse exercito de vitoriosos.

Albérico Queiroz